ARTCULO ORIGINAL
Dor em oncologia: percepo do paciente e dos profissionais de enfermagem
Dolor en oncologa: percepcin del paciente y de los profesionales de enfermera
Pain in oncology: patient perception and nursing professionals
Josi Kelly Navarro Pedroso,I Grassele Denardini Diefenbach,I Silomar Ilha,II Fabiani Weiss Pereira,II Maria Helena Gehlen,I Simone dos Santos Nunes I
I
Centro Universitrio Franciscano. Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
II
Universidade Federal do Rio Grande. Porto Alegre, Brasil.
RESUMO
Introduo:
o cncer traz consigo vrios fatores, capazes de acarretar desgaste fsico
e mental, dentre os quais, a dor, um sinal e um sentimento singular e subjetivo,
considerada um dos sintomas mais temidos, com impacto no apenas ao paciente,
mas todo o contexto familiar e equipe de sade.
Objetivo:
conhecer a percepo da dor em oncologia na tica do paciente e dos profissionais
de enfermagem.
Mtodos:
pesquisa exploratria, descritiva, de abordagem qualitativa, realizada com cinco
pacientes e seis profissionais de enfermagem de um ambulatrio de quimioterapia
de um hospital de mdio porte do Rio Grande do Sul. Os dados coletados por meio
de entrevista semiestruturada, foram submetidos anlise de contedo.
Resultados:
emergiram trs categorias que abordaram o desvelar do significado da dor na
perspectiva das pessoas em tratamento oncolgico; o significado da dor sob a
tica dos profissionais de enfermagem; e, o cuidar em enfermagem oncolgica
na perspectiva dos pacientes e dos profissionais.
Concluses:
A dor fsica/emocional uma realidade vivenciada pelos pacientes com diagnstico
de cncer. Os profissionais de enfermagem mostram-se importantes, pelo estabelecimento
do dilogo e da escuta que aliados ao conhecimento cientfico, potencializam
o cuidado complexo e humanizado.
Palavras chave: dor; cncer; oncologia; enfermagem.
RESUMEN
Introduccin:
el cncer trae consigo una serie de factores que pueden conducir a tensin
fsica y mental, entre ellos, el dolor, un signo y una sensacin nica y subjetiva,
considerado uno de los sntomas ms temidos, que afecta no solo al paciente,
sino a toda la familia y al equipo de salud.
Objetivo:
conocer la percepcin del dolor en oncologa desde el punto de vista del paciente
y del personal de enfermera.
Mtodos:
estudio exploratorio, descriptivo, con enfoque cualitativo, realizado con cinco
pacientes y seis enfermeras de una clnica de quimioterapia de un hospital de
tamao mediano de Ro Grande do Sul. Los datos recogidos a travs de entrevistas
semi-estructuradas fueron analizados contenido.
Resultados:
emergieron tres categoras acerca del significado del dolor: desde la perspectiva
de las personas en tratamiento contra el cncer; desde la perspectiva de los
profesionales de enfermera; y el cuidado en enfermera oncolgica desde la
perspectiva de los pacientes y los profesionales.
Conclusiones:
el dolor fsicoemocional es una realidad que experimentan los pacientes con
cncer. Las enfermeras han encontrado que son importantes el establecimiento
de un dilogo y escuchar a los aliados al conocimiento cientfico, ya que se
aprovecha la atencin compleja y humanizada.
Palabras clave: Dolor; neoplasias; ontologa mdica; enfermera.
ABSTRACT
Introduction:
Cancer brings with it a number of factors, which can lead to physical and
mental strain, among them, the pain, a sign and a unique and subjective feeling,
considered one of the most feared symptoms, affecting not only the patient,
but all family context and the health team.
Objective:
To know the perception of pain in oncology in view of the patient and the nursing
staff.
Methods:
exploratory, descriptive study, with qualitative approach, performed with five
patients and six nurses of a chemotherapy clinic of a medium-sized hospital
Rio Grande do Sul Data collected through semi-structured interviews were analyzed
content.
Results:
Three categories emerged that addressed the unveiling of the meaning of pain
from the perspective of people in cancer treatment; the meaning of pain from
the perspective of nursing professionals; and the care in oncology nursing from
the perspective of patients and professionals.
Conclusions:
The physical / emotional pain is a reality experienced by patients with cancer.
The nurses found to be important, the establishment of dialogue and listening
to allies to scientific knowledge, leverage the complex and humanized care.
Keywords: Pain; neoplasms; medical oncology; nursing.
INTRODUO
Em decorrncia das novidades e inovaes cientficas e tecnolgicas, h uma maior preocupao com temas relacionados sade, em especial ao cncer (CA). No Brasil, o CA representa a segunda causa de bito da populao adulta.1 Traz consigo vrios fatores, capazes de acarretar desgaste fsico e mental, dentre os quais salienta-se, nesse estudo, a dor, considerada um dos sintomas mais temidos,2 com impacto no apenas ao paciente, mas todo o contexto familiar e equipe de sade.3
De acordo com aInternational Association for the Study of Pain (IASP) a dor uma experincia sensitiva e emocional desagradvel, associada ou relacionada leso real ou potencial dos tecidos. Cada pessoa aprende a utilizar esse termo atravs das suas experincias anteriores. 4 Dessa forma, a percepo da dor em cada pessoa ocorre de forma singular, variando na forma, intensidade e circunstncia com que vivenciada.
Diversos fatores podem influenciar na intensidade com que a dor sentida, entre eles, o stress, a raiva/revolta e o medo. Esses fatores fazem parte de um conceito de "dor total", que engloba os aspectos fsico, mental, social e espiritual do ser humano.5-6 Em pessoas com diagnstico de CA, a dor, pode estar presente durante todo o itinerrio oncolgico. Tende a aumentar com a progresso da doena, dor moderada ou intensa ocorrem em 30% das pessoas em estgios iniciais da doena e em 60% a 90% das pessoas com CA em estgio avanado.7
Sendo a dor um sinal e um sentimento singular e subjetivo a cada ser humano,5 faz-se necessrio conhecer, tambm, a percepo dos pacientes sobre a dor oncolgica, justificando a necessidade e relevncia desse estudo para o cuidado de enfermagem a pessoas com doena oncolgica. Assim, questiona-se: Como o paciente oncolgico percebe a dor? E, como os profissionais de enfermagem percebem sua prtica do cuidar ao paciente com dor oncolgica? Na tentativa de responder aos questionamentos explicitados, objetivou-se conhecer a percepo da dor em oncologia na tica dos pacientes e dos profissionais de enfermagem.
METODOS
Pesquisa exploratria, descritiva, de abordagem qualitativa, realizada em ambulatrio de quimioterapia do Hospital Dia da UNIMED, considerado de mdio porte localizado na regio central do Rio Grande do Sul, Brasil. O local, cenrio do estudo, destinado para o tratamento quimioterpico de pessoas com diagnstico de CA e realiza uma mdia de 300 atendimentos mensais, totalizando 3. 600 atendimentos ao ano.
Foram convidados a participar do estudo, pessoas que estivessem em tratamento oncolgico no referido ambulatrio e profissionais de enfermagem atuantes no setor. Como critrios de incluso para as pessoas em tratamento oncolgico, consideraram-se: estar em tratamento oncolgico em nvel ambulatorial, ser maior de 18 anos, e estar em condies de responder a entrevista. Como critrios de excluso: pessoas em tratamento oncolgico com alteraes relacionadas doena ou exames que as impossibilitassem de responder a entrevista.
Para os profissionais, os critrios de incluso foram: ser profissional de enfermagem (Enfermeiro ou tcnico de enfermagem) e atuar no servio a um perodo mnimo de seis meses, pois acredita-se que esse seja tempo suficiente para que os profissionais tenham vivenciado a situao de dor das pessoas em tratamento oncolgico. E, como critrios de excluso: ser profissional de enfermagem com menos de seis meses de atuao no servio; atestado ou laudo mdico no perodo de coleta dos dados. Com base nesses critrios, participaram da pesquisa, formando o corpus desse estudo, 11 pessoas, dos quais cinco pessoas em tratamento oncolgico e seis profissionais de enfermagem.
Os dados foram coletados, por um dos pesquisadores, entre agosto e setembro de 2011, mediante entrevista semiestruturada contemplando sete questes abertas, quais sejam: H quanto tempo est em tratamento? O que significa dor oncolgica para voc? Voc sente dor? Se sim, com que frequncia? Como compreende a sua dor? Qual a intensidade da sua dor? Como voc v o cuidar em enfermagem? Como a equipe auxilia na minimizao da sua dor? As entrevistas foram gravadas, com a autorizao dos participantes e, aps transcritas pelos pesquisadores. Utilizou-se como critrios para interrupo da coleta a saturao dos dados.
Para o tratamento dos dados, utilizou-se a anlise de contedo de Bardin, que consiste em descobrir os ncleos de sentido que compe uma comunicao cuja presena ou frequncia acrescentem significado ao objeto de estudo. 8 Desse modo, a operacionalizao do processo de anlise seguiu as trs etapas do mtodo, na primeira buscou-se fazer uma leitura exaustiva dos dados, seguida da organizao do material e da formulao de hipteses. Na sequncia, foi realizada a explorao do material, codificando-se os dados brutos. Na ltima fase, os dados foram interpretados e delimitados em categorias, de acordo com os significados atribudos
Aps serem analisados, todos os dados referentes as entrevistas, foram guardados em local sigiloso, onde permaneceram por um perodo mnimo de cinco anos e, aps esse perodo, sero cuidadosamente descartados.
Foram considerados os preceitos ticos e legais que envolvem a pesquisa com seres humanos.9 O Projeto foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa local pelo Parecer de no 200.2011.2. Para manter o anonimato dos participantes, as pessoas em tratamento oncolgico foram identificadas pela letra P (paciente) e os profissionais de enfermagem pela letra E (enfermagem), seguida de um algarismo numrico (P1, P2...P5; E1, E2...E6).
RESULTADOS
Das cinco pessoas em tratamento oncolgico, participantes desse estudo, quatro eram do sexo feminino e uma do sexo masculino, com idades entre 34 e 69 anos. Com relao ao diagnstico para o qual estavam em tratamento: CA de Mama (01), Linfoma de Hodgkin (01), Mieloma Mltiplo (01), CA de Cabea de Pncreas (01), e CA de Mama com Metstases sseas (01). Dos seis profissionais, trs eram enfermeiros e trs tcnicos em enfermagem, dois eram do sexo masculino e quatro do sexo feminino, com idades entre 26 e 49 anos e todos com mais de experincia na rea da oncologia.
Os dados analisados resultaram em trs categorias: Desvelar o significado da dor na perspectiva das pessoas em tratamento oncolgico; Significado da dor sob a tica dos profissionais de enfermagem; Cuidar em enfermagem oncolgica na perspectiva dos pacientes e dos profissionais.
Desvelar o significado da dor na perspectiva das pessoas em tratamento oncolgico
Para o paciente com diagnstico de CA, descoberto muitas vezes em estgios avanados, pode ser difcil encontrar uma palavra ou frase que descreva a dor que ele sente, pois leva em considerao componentes sociais, espirituais e emocionais. A dificuldade em descrever um conceito de dor evidencia-se quando os pacientes so questionados quanto ao significado da dor em oncologia, como mostra a fala:
[...] No sei o que eu vou te responder, o que significa a dor?! (P3)
Por ser subjetiva, a dor no pode ser determinada por apenas um significado e, embora seja vivenciada, se torna difcil de ser expressa em palavras, isso pode ser evidenciado quando se questionou o significado da dor em oncologia:
[...] A dor sentimental ou da carne?(P2)
[...] no dor fsica que a gente tem no, emocional [...] (P4)
[...] Dor oncolgica pra mim ter isso (CA) e no saber se tem cura! (P6)
Na experincia dolorosa, os aspectos fsicos, emocionais e sociais esto interligados, e devem ser tratados igualmente, visto que o sentimento de dor pessoal, subjetivo e cada ser humano compreende e a sente de diferentes maneiras. No que diz respeito intensidade, ela varia de acordo com a patologia e com o linear de dor de cada pessoa:
[...] Dor eu no sinto, eu no sinto nada. (P1)
[...] sinto muita dor, como nos ossos, a dor muito intensa [...] uma dor que no passa sabe [...] (P5)
Nos relatos, possvel perceber que a intensidade da dor pode variar de acordo com cada pessoa, sendo uma experincia singular.
Significado da dor sob a tica dos profissionais de enfermagem
Por meio da evidencia de que, profissionais de enfermagem convivem diretamente com pessoas em tratamento oncolgico, algumas vezes com dor, tornou-se necessrio identificar, o que a dor em oncologia, na perspectiva desses profissionais.
[...] A dor aquilo que o paciente diz. Tanto a dor fsica, quanto a emocional s quem pode dizer, ele [...] conseguimos mais ou menos mensurar uma dor fsica, mas a emocional, somente a pessoa que passa por esse problema, que tem condies de te dizer [...] (E3)
[...] A dor oncolgica bastante significativa, principalmente a dor que o paciente sente no seu interior [...] (E4)
[...] a dor oncolgica para o paciente horrvel, ele tem uma angstia, ele quase perde o sentido da vida [...] (E6)
No s o paciente, mas tambm os profissionais de enfermagem encontram dificuldade em traduzir em palavras qual o significado da dor. No entanto, existe a preocupao da equipe de enfermagem, em compreender o significado da dor no paciente oncolgico, enaltecida de acordo com a vivncia que cada profissional tem durante o tratamento desse paciente:
[...] tem muita coisa nova, tu tem que estar sempre te atualizando [...] falta aprender muito ainda pra se conhecer e tratar bem o paciente oncolgico como um todo e, tambm, a sua a dor. (E4)
Por meio desse relato percebe-se que os profissionais de enfermagem, embora muitas vezes no consigam expressar o significado do processo doloroso em palavras, procuram aperfeioar seus conhecimentos relacionados a oncologia, com vistas ao cuidado humanizado e integral, que contemple o paciente e a sua dor.
O cuidar em enfermagem oncolgica na perspectiva dos pacientes e dos profissionais
A criao de um vnculo entre o paciente e os profissionais de enfermagem torna-se necessrio, uma vez que se trabalha diretamente com eles, algumas vezes por um longo perodo. O cuidar em enfermagem envolve um relacionamento interpessoal, e significativo tanto para o paciente quanto para o profissional. Quando questionados, quanto importncia dos profissionais de enfermagem no tratamento das suas patologias, os pacientes referiram:
[...] eles nos apoiam e nos levantam [...] s vezes a gente esta l embaixo, e eles nos levantam [...] (P3)
[...] eles ficam brincando conosco, contando piada, querendo pegar uma veia para mais, s para nos fazer rir [risos]. (P1)
[...] So pessoas muito especiais, diferentes, o meu marido mesmo dizia que eles eram anjos do cu [...] (P4)
O vnculo entre o paciente e o profissional, ocorre por meio de brincadeiras e do dilogo, no momento em que o paciente verbaliza as suas angstias e medos, e o profissional est aberto a escutar, colocando-se como um ombro amigo nos momentos difceis, buscando proporcionar um conforto maior a essas pessoas. Quando instigados a relatar como sua prtica no cuidar de pacientes oncolgicos, obtiveram-se como respostas dos profissionais de enfermagem:
[...] eu procuro dar o melhor de mim, independente de qualquer coisa, busco fazer o mximo que posso. Gosto de ouvir, dar ateno, fazer algo mais. (E3)
[...] eu sento, pego na mo, converso e olho nos olhos dos pacientes. Ento, pra mim muito gratificante, uma satisfao enorme [...] (E6)
Cuidar no uma atitude do mais forte em relao ao mais fraco, no implica em poder ou hierarquia, mas se traduz como uma relao entre algum que tem condio de ajudar e algum que necessita desta ajuda:
[...] Eu me sinto tranquilo, porm, muitas vezes inseguro. (E4)
[...] Eles so pacientes que querem bastante ateno, a tu te sentes feliz, por que eles te abraam, conversam e te reconhecem. Aqui na quimioterapia, eles passam trazendo fotos, conversando, eles so pacientes bem diferentes dos de outros setores. (E2)
[...] Me sinto bem, tratamos de pessoas e no sabemos o que ir acontecer com elas amanh. Temos que tratar bem [...] (E1)
Os relatos permitem constatar que apesar dos profissionais de enfermagem, por vezes, se sentirem inseguros, eles entendem o cuidar em oncologia como sendo muito gratificante. Colocam-se frente ao paciente, prontos a estabelecer um vnculo, procuram confortar quando necessrio e cuidar de forma singular, atendendo as suas particularidades.
DISCUSSO
O estudo demonstra a percepo da dor em oncologia na perspectiva dos pacientes e dos profissionais de enfermagem, bem como o cuidado prestado pela enfermagem. Os pacientes verbalizaram que a dor perpassa a dimenso fsica e est interligada ao emocional, social e ao espiritual. O mesmo ocorre com a percepo dos profissionais entrevistados, que demonstram preocupao em compreender o significado da dor e no apenas a aplicao de analgesias para o seu alivio, dado semelhante ao de um estudo realizado com profissionais de enfermagem da Sucia.10
Tanto os pacientes, quanto os profissionais, apresentaram dificuldade em descrever o significado da dor. Isso se deve pelo fato de que a dor caracterizada como uma experincia multidimensional, um sintoma subjetivo e como tal de difcil avaliao.5-6
Dessa forma, identificou-se durante os relatos que cada pessoa percebe, reage e elabora sua percepo de dor de forma singular. Essa forma de perceber a dor, torna-se, por vezes, uma fragilidade a ser enfrentada pelos pacientes que a vivenciam e pelos profissionais, de forma indireta, que precisam compreender esse processo subjetivo, com vistas ao desenvolvimento do cuidado, que por sua vez, constitui a essncia da enfermagem.11 Nesse sentido, averiguou-se um aspecto positivo dos profissionais, que apesar de vivenciarem essa fragilidade em sua rotina de trabalho diria, se prope a compreender como se relacionam entre si a sade, a enfermidade e a conduta humana.
Os pacientes reconhecem e consideram os profissionais de enfermagem como especiais e diferentes. No relato de uma paciente foi possvel perceber o apelido carinhoso de "anjos do cu" atribudo pelo seu esposo aos profissionais de enfermagem. Resultado semelhante a esse foi evidenciado em estudos desenvolvidos, com pacientes oncolgicos, na Sucia10 e Cleveland.3 Tais estudos, demonstraram que o ambiente de carinho e de acolhimento promovido pela equipe de enfermagem, auxiliou os pacientes e seus familiares nas diversas condutas humanas relacionadas sade e enfermidade.10
O reconhecimento do profissional pelo paciente acarreta em vnculo e relacionamento interpessoal, estreitando os laos de confiana. Corrobora com esse resultado, um estudo realizado com enfermeiros Tailandeses sobre cuidados paliativos de enfermagem a pacientes oncolgicos, onde se apresentou como uma importante interveno de cuidado de enfermagem, a relao de confiana. Tal relao foi estabelecida, principalmente, por meio do apoio emocional, da escuta e da preocupao dos profissionais, os quais procuravam realizar o mximo de si em prol de manter a qualidade de vida dos pacientes oncolgicos.12
O cuidado pressupe capacidade para a escuta e o dilogo, alm de disponibilidade para perceber o outro, como um sujeito com potencialidades, contribuindo sua autonomia e estimulo a cidadania.13 Dessa forma, o cuidado de enfermagem deve levar em conta a humanizao, como uma ao complexa e integral, respeitando e acolhendo as necessidades de cada sujeito, o que foi verificado ao conhecer a percepo da dor oncolgica pelos profissionais pesquisados. Cuidar de pessoas que sofrem, tratar e ajudar quem os acompanha, pode ser pensado, como uma das motivaes fundamentais da enfermagem.11
Evidenciou-se que os profissionais, entendem o cuidar em oncologia como sendo muito gratificante, reiterando que so reconhecidos pelos pacientes. Pesquisa realizada com enfermeiros que atendiam pacientes de CA em ambulatrios nos Estados Unidos evidenciou que apesar do alto fluxo de pacientes para procedimentos ambulatoriais, principalmente para o tratamento de quimioterapia, havia o reconhecimento pelo seu trabalho. Esses sentiam-se realizados e reconhecidos, o que os estimulava no desempenho de suas atribuies e comunicao com a equipe multiprofissional para o desenvolvimento de um cuidado pleno e de qualidade.14
Dessa forma, para auxiliar os profissionais na identificao e na compreenso da dor em oncologia, acredita-se ser necessrios maiores investimentos em produes tecnolgicas. A esse respeito, salienta-se o estudo realizado em Nova York com enfermeiros, que apresentou a tele monitorizao aliada a educao profissional, para a sua aplicabilidade. Essa tecnologia contribuiu para a diminuio da dor fisiolgica, da depresso, ansiedade, do desempenho e da qualidade de vida dos pacientes ambulatoriais com cancro avanado.15
A luta contra o cncer no se limita somente ao paciente, ela se estende aos mais prximos e, principalmente, aos que exercem o papel de cuidadores. 16 Dessa forma, deve-se olhar para o paciente de forma integral, procurando auxili-los no manejo da dor. Pesquisa desenvolvida no centro-oeste dos Estados Unidos avaliou a eficcia e segurana de uma tecnologia, a reflexologia, que auxiliou no estado funcional e dispneia em mulheres com CA de mama.17 Estudo desenvolvido com enfermeiros coreanos evidenciou que mais de 80% dos enfermeiros concordam que os itens necessrios para um servio integrado e eficiente de gesto de pacientes com cncer deve incluir um sistema de gesto da dor e dos sintomas, e educao para o paciente e seus cuidadores.18
Outra tecnologia utilizada foi evidenciada em estudo nacional que abordou sobre o desenvolvimento de um Catlogo CIPE para dor oncolgica, o qual pode ser utilizado como um instrumento para a documentao da implementao do processo de enfermagem de pacientes com CA.5 Nesse sentido, observa-se a necessidade de realizar mais pesquisas com descries da percepo da dor oncolgica por pacientes e profissionais e o desenvolvimento de investigaes com intervenes tecnolgicas de enfermagem acerca da dor oncolgica.
As limitaes dessa pesquisa referem-se, principalmente, ao fato de que, a mesma no apresenta inovao tecnolgica acerca do cuidado e sim a explorao e descrio das percepes dos envolvidos, o que no permite a generalizao dos seus resultados. No entanto, a mesma mostra-se relevante para o aumento do conhecimento relacionado dor em oncologia, o que contribui ao cuidado ofertado s pessoas com doena oncolgica.
CONSIDERAES FINAIS
Os profissionais relataram algumas formas de identificar a dor no paciente oncolgico, apontando a dor fsica, mas tambm a emocional, e se mostraram empenhados a fazer uso, no apenas de medicaes, mas do vnculo que estabelecem com os pacientes para amenizar o mximo possvel a dor que cada um vivencia. Com isso torna-se evidente a importncia dos profissionais de enfermagem no cuidado s multidimenses das pessoas em tratamento oncolgico.
Os pacientes consideram os profissionais de enfermagem como fundamentais para uma boa evoluo do tratamento. Pode-se perceber que o cuidar em oncologia complexo, e nem sempre, existe uma maneira exata para amenizar a dor. Portanto, salienta-se a importncia dos profissionais, em especial os de enfermagem, saberem identific-la e estabelecerem uma relao de respeito e confiana com os pacientes, investigando fontes de dor fsica e no fsica, por meio da comunicao verbal e/ou no verbal, para que esta possa ser amenizada, proporcionando melhor conforto, durante o tratamento e a busca da cura.
Conflito de interesse
No h conflito de interesse
REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS
1. Ministrio da Sade (BR). Instituto Nacional de Cncer-INCA. Cncer do Brasil: Dados dos registros de base populacional. Rio de Janeiro(RJ): Ministrio da Sade; 2010.
2. Pereira DTS, Andrade LL, Agra G, Costa MML. Therapeutic conducts used in pain management in oncology. J. res.: fundam. care. 2015 [cited 13 Out 2015];7(1):1883-90. Disponvel em: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/viewFile/3578/pdf_1422
3. Douglas S, Daly B. Effect of an Integrated Cancer Support Team on Caregiver Satisfaction With End-of-Life Care. Oncol Nurs Forum. 2014 [cited 25 Abr 2015];41(4):E248-55. Disponvel em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4401575/
4. Tomaz A. Dor oncolgica: conceitualizao e tratamento farmacolgico. Onco&. 2010 [citado 25 Abr 2015];(agosto/setembro):24-9. Disponvel em: http://revistaonco.com.br/wp-content/uploads/2010/11/artigo2_edicao1.pdf
5. Carvalho MWA, Nbrega MML, Garcia TR. Processo e resultados do desenvolvimento de um Catlogo CIPE para dor oncolgica. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(5):1061-8.
6. Yaakup H , Eng TC , Shah SA . Does clinical experience help oncology nursing staff to deal with patient pain better than nurses from other displines? Knowledge and attitudes survey amongst nurses in a tertiary care in Malaysia. A sian Pac J Cancer Prev . 2014 [cited 25 Abr 2015];15(12):4885-91. Disponvel em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24998558
7. Ministrio da Sade (BR). Instituto Nacional de Cncer-INCA. Cuidados paliativos oncolgicos: controle da dor. Rio de Janeiro (RJ); 2008.
8. Bardin L. Anlise de contedo. Ed. So Paulo: Edies 70; 2011.
9. Ministrio da Sade (BR). Conselho Nacional de Sade, Resoluo n. 196, de 1996. Normas de pesquisa envolvendo seres humanos, Biotica 1996. Braslia: Ministrio da Sade; 1996.
10. Browall M, Koinberg I, Falk H, Wijk H. Patients' experience of important factors in the healthcare environment in oncology care. Int J Qual Stud Health Well-being. 2013 [cited 25 Abr 2015];6(8):20870. Disponvel em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3737438/
11. Diefenbach GDF, Motta MGC. O cuidar de enfermagem: famlia e criana com dor oncolgica. Cogitare Enferm. 2012;17(3):458-63.
12. Doorenbos AZ, Juntasopeepun P, Eaton LH, Rue T, Hong E, Coenen A. Palliative Care Nursing Interventions in Thailand. J Transcult Nurs. 2013 [cited 25 Abr 2015];24(4):332-9. Disponvel em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3828078/pdf/nihms526460.pdf
13. Duarte MLC, Noro A. Humanizao: uma leitura a partir da compreenso dos profissionais da enfermagem. Rev Gacha Enferm. 2010;31(4):685-92.
14. Kamimura A, Schneider K, Lee CS, Crawford SD, Friese CR. Practice environments of nurses in ambulatory oncology settings: a thematic analysis. Cancer Nurs. 2012 [cited 25 Abr 2015];35(1):E1-7. Disponvel em: http://europepmc.org/backend/ptpmcrender.fcgi?accid=PMC3137723&blobtype=pdf
15. Kim HS, Shin SJ, Kim SC, An S, Rha SY, Ahn JB, et al. Randomized controlled trial of standardized education and telemonitoring for pain in outpatients with advanced solid tumors. Support Care Cancer . 2013 [cited 25 Abr 2015];21(6):1751-9. Disponvel em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23338230
16. Oliveira RAA, Moura TML, Perrelli JGA, Lopes MVO, Mangueira SO. Tenso do papel de cuidador principal diante do cuidado prestado a crianas com cncer. Revista Cubana de Enfermera. 2015;31(2):[aprox. 9 p.]. Disponvel em: http://www.revenfermeria.sld.cu/index.php/enf/article/view/331/125
17. Wyatt SA, Rahbar MH , Victorson D , You M . Health-related quality-of-life outcomes: a reflexology trial with patients with advanced-stage breast cancer. Oncol Nurs Forum . 2012 [cited 25 Abr 2015];39(6):568-77. Disponvel em: http://europepmc.org/backend/ptpmcrender.fcgi?accid=PMC3576031&blobtype=pdf
18. Park SA, Chung SH, Shin EH . Attitudes of nurses toward supportive care for advanced cancer patients. Asian Pac J Cancer Prev . 2012 [cited 25 Abr 2015];13(10):4953-8. Disponvel em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23244089
Recibido: 2015-11-30.
Aprobado:
2016-07-14.
Josi Kelly Navarro Pedroso . Centro Universitrio Franciscano. Direccin electrnica: grassele@hotmail.com
Enlaces refback
- No hay ningún enlace refback.
Copyright (c) 2017 Josi Kelly Navarro Pedroso, Grassele Denardini Diefenbach, Silomar Ilha, Fabiani Weiss Pereira, Maria Helena Gehlen, Simone dos Santos Nunes
Esta obra está bajo una licencia de Creative Commons Reconocimiento-NoComercial-CompartirIgual 4.0 Internacional.