ARTCULO ORIGINAL
Percepo de presidirias sobre a assistncia sade materna em uma penitenciria feminina
Percepcin de los presos de la atencin de la salud materna en una crcel de mujeres
Prisoners' perception of maternal health care in a women's prison
Luzane de Sousa Ferreira,I Wanderson Carneiro Moreira, II Marcelo Victor Freitas Nascimento,I Gilson Nunes de Sousa,I Mrcia Andrea Lial Serto,I Eliana Camplo Lago,I Delmo de Carvalho Alencar III
I
Associao de Ensino Superior do Piau/AESPI. Teresina (PI), Brasil.
II
Centro Universitrio UNINOVAFAPI. Teresina (PI), Brasil.
III
Universidade Federal do Piau. Teresina (PI), Brasil.
RESUMO
Introduo:
o direito sade da mulher est definido na Constituio Brasileira e
na Lei Orgnica da Sade, mas todos esses aspectos so discutidos pensando na
mulher que goza de liberdade fsica e jurdica, desconhecendo a realidade de
mulheres presidirias, cujo acesso s informaes torna-se mais difcil e que
por apresentarem uma histria de vida muitas vezes penosa, enfrentam ainda mais
o preconceito, devido s vrias exposies sociais.
Objetivo:
analisar e descrever a percepo de presidirias sobre a assistncia
sade materna em uma penitenciria feminina.
Mtodos:
estudo descritivo e exploratrio de abordagem qualitativa, desenvolvido no ano
de 2014 numa penitenciria feminina de referncia da capital piauiense, Brasil.
Participaram 14 presidirias selecionadas mediante os critrios de incluso.
Coletou-se os dados atravs de entrevista semiestruturada e foram analisados
mediante a tcnica de anlise de contedo.
Resultados:
a partir da anlise emergiram duas categorias temticas, a saber: O Enfermeiro
presente na assistncia pr-natal e puerperal das presidirias; e a falta de
assistncia humanizada, diante de presidirias no ciclo gravdico puerperal.
Concluso:
as participantes relataram que a Enfermagem atuante no pr-natal e puerprio,
porm queixam-se do atendimento desumano que lhes prestado, devido ao preconceito
dos profissionais de sade relacionado sua condio prisional.
Palavras chave: Enfermagem; enfermagem obsttrica; sade da mulher; cuidados de enfermagem.
RESUMEN
Introduccin:
el derecho a la salud de la mujer se define en la Constitucin brasilea
y la Ley Orgnica de Salud, pero todos estos aspectos se discuten pensando en
la mujer que disfruta de la libertad fsica y jurdica, haciendo caso omiso
de la realidad de las internas, en cuyo acceso a la informacin tornados ms
duro y que presentan una historia de vida a menudo dolorosa, an ms de cara
al perjuicio debido a diversas exposiciones sociales.
Objetivo:
analizar y describir la percepcin de los presos en la atencin de la salud
materna en una crcel de mujeres.
Mtodos:
estudio descriptivo y exploratorio de abordaje cualitativo, desarrollado en
2014 una hembra de capital penitenciario referencia Piau, Brasil. Los participantes
fueron 14 prisioneros seleccionados por los criterios de inclusin. Hemos recogido
los datos a travs de entrevistas semiestructuradas y se analizaron mediante
anlisis de contenido.
Resultados:
del anlisis surgieron dos categoras temticas: la enfermera presente en el
prenatal y puerperal a los presos; y la falta de asistencia humana, antes de
prisioneros en el ciclo de embarazo puerperales.
Conclusin:
el estudio permiti conocer la percepcin del grupo estudiado. Los participantes
informaron que la enfermera est activa en prenatal y posparto, pero se quejan
de la atencin inhumana que se les proporciona a ellos, debido a la tendencia
de los profesionales de salud relacionados con su condicin de prisin.
Palabras clave: Enfermera; obstetricia; salud de la mujer; cuidados de enfermera.
ABSTRACT
Introduction:
The right to health of women is defined in the Brazilian Constitution and the
Organic Law of Health, but all of these aspects are discussed thinking about
the woman who enjoys physical and legal freedom, ignoring the reality of female
prisoners, whose access to information torna-harder and that they present a
life story often painful, even more face prejudice due to various social exhibits.
Objective:
To analyze and describe the perception of prisoners on the maternal health care
in a women's prison.
Methods:
Descriptive and exploratory study of qualitative approach, developed in 2014
a female reference penitentiary capital Piaui, Brazil. Participants were 14
prisoners selected by the inclusion criteria. We collected the data through
semi-structured interviews and were analyzed by using content analysis.
Results:
From the analysis emerged two thematic categories, namely: The nurse present
in the prenatal and puerperal of prisoners; and the lack of human assistance,
before prisoners in the puerperal pregnancy cycle.
Conclusion:
The survey allowed to know the perception of the group studied. Participants
reported that nursing is active in prenatal and postpartum, but complain about
the inhumane care that is provided to them, due to the bias of health professionals
related to his prison condition.
Keywords: Nursing; midwifery; women's health; nursing care.
INTRODUO
Quanto sade da mulher no perodo da gravidez e no parto ocorrem eventos essencialmente fisiolgicos na vida da mulher. No entanto, caracteriza-se por provocar variadas e profundas alteraes fsicas e emocionais, o que requer um acompanhamento contnuo por parte da famlia e dos profissionais de sade.1 Na histria da Sade Pblica, a ateno sade da mulher tem sido considerada uma rea prioritria de assistncia e principalmente discutida pensando na mulher que goza de liberdade fsica e jurdica.
O termo pr-natal significa "antes do nascimento". Isso demostra que os cuidados com o beb devem comear durante a gestao, logo aps a descoberta da gravidez. Esse acompanhamento permite identificar e reduzir problemas de sade que podem acometer a sade da me e do seu beb. Possveis doenas e disfunes podero ser detectadas e tratadas precocemente. O pr-natal define o direito de receber adequada assistncia no perodo da gravidez at o nascimento; realizao de pelo menos seis consultas pr-natal e alimentao adequada ao perodo de gravidez.2
Durante a gravidez, a mulher passa por diversas transformaes em todo o seu organismo. No puerprio, que a fase ps-parto, essas transformaes regridem s condies pr-gravdicas, porm esta evoluo difere de mulher para mulher.
Com um nmero expressivo de mulheres presas, foi institudo, pelos Ministrios da Sade e da Justia, por meio da Portaria Interministerial n. 1777, de 09 de setembro de 2003, o Plano Nacional de Sade no Sistema Penitencirio (PNSSP) que tem como objetivo prover a ateno integral sade da populao penitenciria brasileira. Entre as aes especficas sade da mulher privada de liberdade, preconizadas no PNSSP, esto pr-natal e garantia do acesso das gestantes no atendimento de intercorrncias, partos e assistncia ao puerprio, controle do cncer crvico-uterino e de mama.3
A Lei 11.942 estabelece que os sistemas prisionais femininos sejam dotados de seo para gestantes e parturientes e de creches para os menores cuja responsvel esteja presa. Esta lei traz inovaes legislao de execuo penal, reconhecendo as especificidades de gnero que permeiam o encarceramento feminino e, em especial, reflete a necessria oferta de condies especficas para o adequado cuidado com as mulheres presas gestantes e parturientes e seus recm-nascidos.
O direito sade da mulher est definido na Constituio Brasileira e na Lei Orgnica da Sade, mas todos esses aspectos so discutidos pensando na mulher que goza de liberdade fsica e jurdica, desconhecendo a realidade de mulheres presidirias, cujo acesso s informaes torna-se mais difcil e que por apresentarem uma histria de vida muitas vezes penosa, enfrentam ainda mais o preconceito, devido s vrias exposies sociais. O acesso ao posto de sade pelas presas tambm no to fcil uma vez que as mesmas esto privadas da sua livre locomoo.4
A ateno gestante no sistema prisional uma rea de atuao da Enfermagem ainda pouco conhecida no Brasil. Esta escassa ateno dada ao tema aponta para a relevncia da investigao de questes que envolvem a sade da mulher durante o pr-natal em ambientes prisionais.
A relevncia deste estudo dar-se- pela escassez de publicaes a respeito do tema no cenrio nacional, sendo necessrio o desenvolvimento de estudos como este no intuito de subsidiar discusses sobre a temtica, bem como contribuir para a sensibilizao de profissionais da sade sobre a importncia de melhor assistirem e prestarem uma assistncia de qualidade para mulheres no mbito penitencirio.
Dessa forma, o presente estudo surgiu da necessidade de questionar-se: Qual a percepo de detentas frente a assistncia de sade no ciclo gravdico e puerperal? A partir disso objetivou-se analisar e descrever a percepo de presidirias sobre a assistncia sade materna em uma penitenciria feminina.
MTODOS
Trata-se de um estudo descritivo e exploratrio de abordagem qualitativa, desenvolvido em uma penitenciria feminina de referncia localizada no municpio de Teresina/PI. Participaram 14 presidirias, selecionadas de acordo com os critrios de incluso: est em crcere presidirio, que esto ou estiveram grvidas durante seu perodo de deteno. Foram excludas aquelas que apresentassem alguma deficincia auditiva ou cognitiva, que oferecesse risco aos pesquisadores ou recusa em participar do estudo.
A coleta de dados ocorreu nos meses de outubro a novembro de 2014 atravs de entrevista, viabilizada por um roteiro semiestruturado com perguntas fechadas e abertas. O espao fsico para realizao das entrevistas foi definido junto Casa de Custdia Feminina, de forma a promover condies mnimas de preservao da individualidade das entrevistadas, de forma a garantir o sigilo das informaes fornecidas.
Os dados obtidos foram submetidos anlise de contedo, na qual agrupam-se falas de diferentes depoimentos, com formao de categorias analticas. As Informaes coletadas foram analisadas e transcritas utilizando-se a tcnica de anlise de contedo proposta por Minayo, que realizada em trs etapas.5 A pr-anlise consiste em uma anlise dos documentos, na retomada das hipteses, e dos objetivos iniciais da pesquisa. Como atividade inicial, foi realizada uma leitura flutuante que tem como propsito manter um contato exaustivo com o material, estabelecendo maior esclarecimento do leitor com o contexto. A segunda etapa denominada explorao do material foi realizada por meio da transformao dos dados brutos visando alcanar o ncleo da compreenso do texto. Primeiramente trabalhou-se com o recorte textual em unidades de registro podendo ser determinado por uma frase, num segundo momento escolheu-se as regras de contagem que por sua vez realiza a classificao e a agregao dos dados. E finalmente realizou-se o tratamento e a interpretao das informaes com apoio da literatura pertinente ao tema.
Todos os procedimentos formais e ticos6 foram respeitados durante todo o processo de investigao, tendo o estudo sido submetido aprovao pelo Comit de tica em Pesquisa da Universidade Paulista (protocolo n 1.826.522), bem como da instituio coparticipante.
RESULTADOS E DISCUSSO
Para que os relatos fossem processados de maneira a alcanar os objetivos da pesquisa, os dados foram analisados de forma ordenada e coerente, permitindo o discernimento das relaes e dos padres, facilitando a descoberta de ncleos de sentidos produzidos no material coletado. Para tanto, entrevistou-se 14 presidirias, onde a caracterizao das mesmas foi organizada no quadro 1 a seguir, levando em considerao a identificao recebida por cada uma; idade; escolaridade; estado civil; ocupao e tempo de deteno.
Com a finalizao das entrevistas a partir da saturao das respostas, obteve-se variveis de faixa etria entre 19 e 37 anos de idade, tendo maior predominncia de jovens-adultas na faixa de 20 a 29 anos. O nvel de escolaridade variou entre ensino fundamental incompleto e ensino mdio completo, sendo quatro com ensino fundamental incompleto; trs com ensino fundamental completo; trs possuem ensino mdio incompleto, quatro ensino mdio completo, sendo que menos de 1/3 tem o ensino mdio completo, evidenciando o baixo nvel de escolaridade, que de fato interfere nas percepes de mundo dos participantes do estudo.
Relacionado ao estado civil, percebeu-se prevalncia de mulheres solteiras, sete no total; quatro em unies estveis e trs eram casadas. Quanto a ocupao mencionada, obteve-se: Do lar, domstica; estudante; garonete; cabeleireira; e microempresria. O tempo de permanncia dentro da instituio variou entre dois meses a trs anos, tendo maior prevalncia entre um a dois anos de recluso, o tempo de recluso tem seu valor associado a experincia, pois quanto maior for o tempo de institucionalizao, maior sero as percepes adquiridas do servio de sade.
Aps anlise crtica das falas obtidas na entrevista e com base nos objetivos delineados nesta pesquisa, organizaram-se duas categorias temticas, sendo:
1- O Enfermeiro presente de forma efetiva na assistncia pr-natal e puerperal das presidirias;
2- A falta de assistncia humanizada, diante de presidirias no ciclo gravdico puerperal.
O Enfermeiro presente na assistncia pr-natal e puerperal das presidirias
Ao analisar as falas das participantes nota-se a presena da Enfermeira no acompanhamento do pr-natal das mulheres que vivenciaram a gestao no presdio de forma efetiva, sendo possvel observar o trabalho de identificao das necessidades visando foment-las, como pode ser observado nos depoimentos a seguir:
At agora s fiz uma consulta com a Enfermeira. Fiz preveno e recebi medicao. (Accia).
Fiz duas com o Mdico e quatro com a Enfermeira e estudantes, realizei exames, sou vacinada e tomei remdio. (Azalia).
S me lembro ter tido uma consulta com o Mdico e o resto com a Enfermeira, passou exame, tomei vacinas e remdios. (Cravo Branco).
Fiz trs consultas com a Enfermeira daqui, passou exames, vacinas e remdios. (Gloriosa).
Tive seis consultas, duas com o com o Mdico e quatro com a Enfermeira e os estudantes, fiz exames, tomei remdios e me vacinei. (Hortncia).
At agora fiz cinco consultas com a Enfermeira, fiz exame, tomei os remdios e me vacinei. (Lavanda).
Realizei oito consultas, cinco aqui dentro com a Enfermeira e trs com o Mdico na Maternidade do Promorar, estou vacinada, tomei remdios e fiz exame. (Lrios).
Fui muito bem acompanhada pela Enfermeira daqui que tive seis consultas e duas com o Mdico da Evangelina Rosa, fiz exames, vacinas e tomei remdios. (Rainha da Noite).
Tive seis consultas na penitenciaria todas com Enfermeira, me vacinei, tomei remdio e fiz os exames. (Tulipas).
possvel observar a atuao do Enfermeiro no pr-natal das presidirias, sendo em alguns casos mencionado como o nico profissional que realizou o acompanhamento do pr-natal dentro da instituio at o momento, e a efetiva cobertura vacinal, disponibilizao de exames e medicamentos.
O pr-natal tem a finalidade de detectar possveis complicaes que possam vir a colocar em risco a vida da criana e de sua me, de modo a reduzir a mortalidade materno-infantil, sendo assim, este consiste em realizar a avaliao e busca de diversos fatores determinantes das condies de sade-doena da gestante visando interferir de maneira benfica.7
A ateno durante o pr-natal constitui-se em uma das aes mais importantes, com impactos positivos em indicadores materno-infantis. Assim, o objetivo acolher a mulher ainda no incio da gravidez, assegurando, no fim da gestao, a sade e o bem-estar da me e de seu filho, atravs de uma ateno qualificada e humanizada, evitando condutas ineficientes, para tanto necessrio no mnimo sete consultas com profissionais Mdicos e/ou Enfermeiros de modo alternado.8
A consulta de Enfermagem durante o pr-natal visa avaliar o estado de sade atual da gestante, procurando identificar problemas em potencial que prejudiquem a vida da me e da criana, dessa forma o Enfermeiro avalia os ricos da paciente atravs de: anamnese e exame fsico; exames laboratoriais; situao vacinal; ausncia de suplementao; estado nutricional; antecedentes obsttricos, entre outros, em caso de alterao capaz de analisar a necessidade real de realizar encaminhamentos para uma maternidade de referncia.7
O encaminhamento de certa forma reflete a qualidade da consulta, pois o profissional tem conhecimento tcnico-cientfico para detectar uma alterao de risco moderado grave, a seguir temos o depoimento de mes que necessitaram de encaminhamento para a maternidade de referncia:
Fui pra a maternidade, a presso tava muito alta. (Maracuj);
Dentro da cadeia tive duas consultas [...] e o resto na Maternidade Evangelina Rosa porque desde os meus trs meses de gravidez perdia muito lquido e sentia muitas dores. (Malvas).
Tive sfilis a Enfermeira descobriu e fui tratada, a nenm nasceu sem sfilis. (Rainha da noite).
Nos relatos
possvel observar a necessidade de sade em muitos casos detectada pelo Enfermeiro,
atravs das consultas e exames ainda no pr-natal, isso tem impacto positivo,
pois viabiliza o tratamento precoce da doena, proporciona melhor qualidade
de vida gestante e purpera garantindo sade para seu beb.
Das 14 (quatorze) presidirias que participaram do estudo, todas relataram terem
realizado exames regularmente, controle das vacinas e uso de medicaes, representando
a importncia dada pelo Enfermeiro na deteco e preveno precoce dos agravos,
isso possvel observar em algumas falas relacionadas aos exames:
Realizei todo tipo de exame, HIV, pra saber o tipo de sangue, da sfilis, da rubola, at preveno eu fiz. (Azaleia).
Fiz tudo, quase todo ms tinha exame, era exame de mais. (Cravo Branco).
Fiz de HIV, de sfilis, da doena do gato, de rubola, fiz tudo que a senhora pode imaginar. Todos. (Lavanda).
Fiz todos os exames, de xixi por contada presso, de sangue, de HIV, de ferro. Fiz uma ultrassom e deu pra ver meu filho. (Maracuj).
Fiz todo tipo de exame, fiz todos (Orqudea);
Fiz tudo que tinha direito. (Rainha da Noite).
Fiz muitos exames, sempre tinha fiz no presdio e na maternidade tambm. (Malvas).
A solicitao de exames, a prescrio de medicamentos e o controle das vacinas tem papel fundamental para o controle das principais doenas que acometem a gestante e que podem interferir na sade do recm-nascido, pois atravs dessas aes, que o Enfermeiro tem como detectar doenas que possam causar danos tanto para a gestante, quanto para o feto.9
A Fundao Municipal de Sade,8 preconiza que o Enfermeiro pode solicitar: Hemograma; Grupo sanguneo e fator Rh; Sorologia para sfilis; Glicemia em jejum; Sumrio de Urina; Anti-HIV; HBsAg; Sorologia para Toxoplasmose; Parasitolgico de fezes; Coombs indireto; Citologia onctica e Ultrassonografia obsttrica, alm disso podem prescrever o cido flico e o sulfato ferroso.
A seguir, as falas relacionadas vacina e aos medicamentos disponibilizados para as presidirias:
Estou com tudo em dias, vacina completa, uso o cido flico. (Copo de Leite).
Precisei tomar todas as vacinas [...] fiquei tomando o sulfato ferroso e cido flico. (Girassol).
Completei as vacinas que tava faltando, ai ela passou o sulfato ferroso, cido flico. (Gloriosa).
Fui Imunizada contra o ttano e hepatite B, ai fiquei tomando cido flico e sulfato ferroso. (Hortncia).
Tava usando o cido flico, depois tomei todas as vacinas, tudo que tava faltando. (Lrios).
Tomei as vacinas, quanto eu tava gravida ainda, hoje t tomando s o sulfato ferroso. (Tulipas).
O Ministrio da Sade8 preconiza que dentro da ateno bsica, o Enfermeiro est respaldado a realizar a solicitao de exames e a prescrever o cido flico e o sulfato ferroso, de modo a facilitar a deteco e tratamento precoce de agravos, ainda durante o pr-natal, visando facilitar prevenir agravos e dar inicio precoce a tratamentos, diminuindo os riscos relacionados a possveis complicaes de patologias facilmente diagnosticadas atravs de exames laboratoriais.
A autonomia dada ao Enfermeiro para solicitao de exames e prescrio de medicamentos que vo desde a deteco precoce da gravidez, aos exames de rotina e complementares, muito importante, uma vez que este profissional que muitas vezes conduz o pr-natal, sendo capaz de interferir de modo a detectar precocemente agravos que pe em risco a vida de me e filho.10
A Fundao Municipal de Sade,8 recomenda a busca ativa por situaes vacinais em atraso, para promover sua atualizao vacinal, atualizando a vacina dT, a cada 5 (cinco) anos em caso de gravidez afim de evitar possveis casos de difteria e ttano, e 3 (trs) doses da vacina contra a hepatite, para fazer a preveno da hepatite B, sendo o Enfermeiro o responsvel identificar e atualizar situaes vacinais em atraso.
importante que se realize a atualizao vacinal contra a hepatite B e o ttano, pois ambas so doenas que tem potencial letalidade, porm so facilmente prevenidas atravs do simples ato da imunizao, onde necessrio sensibilizar a gestante para a importncia de estar vacinada contra estes agravos, neste momento da vida.11
Existe a necessidade da introduo do cido flico e do sulfato ferroso durante a gestao, pois o cido flico protege o feto contra uma m formao, j o sulfato ferroso previne formas de anemias carncias que podem acometer a gestante, mesmo depois do parto a me transmiti o ferro atravs da amamentao at cerca de seis meses aps o parto.12
importante destacar que as aes, de solicitao de exames, controle vacinal e prescries de cido flico e sulfato ferroso, do Enfermeiro so de extrema importncia principalmente para as presidirias, que devido o regime de recluso so impossibilitadas de procurar a sua livre vontade algum estabelecimento de sade de forma a terem a penitenciria como principal provedora e promovedora de sade para a gestante e purpera.
A falta de assistncia humanizada, diante de presidirias no ciclo gravdico puerperal
A humanizao na assistncia de suma importncia em toda e qualquer forma de assistncia sade, independente do sexo, condio social, idade e se esto em unidades prisionais. A desumanizao reflete a m qualidade do servio, podendo levar problemas sade das presidirias e a seus filhos, como pode ser observado nos depoimentos a seguir:
Assistncia ruim, comeando pelo Mdico, que no meu tempo de grvida quase faz eu perde meu filho passando remdio que no tinha nada a ver, parei de tomar porque o Mdico da maternidade suspendeu. (Cravo Branco).
Teve um dia que eu tava com muita dor de cabea e elas no queriam me levar
para o hospital a eu fui obrigada a fazer baderna, ai que elas foram me levar
[...] elas no me do nada para dor, fica assim mesmo com dor. (Accia).
Essas mulheres tratam a gente como bichos, temos que fazer de tudo, nosso resguardo sempre quebrado. (Copo de Leite).
Eu sentia muita dor, quando eu pedi pra Enfermeira me ajudar elas dizia que eu no tava em casa no que era pra eu me virar. Elas so desumanas. (Malvas).
A equipe de sade daqui s ajuda a gente no nosso pr-natal, depois somos esquecidas. (Orqudeas).
No tive orientao nenhuma, nem os testes do nenm eles fizeram, a primeira vacina dele foi feita h pouco tempo com quase 1 ms. (Gloriosa).
A partir dos relatos observados, possvel detectar que para as presidirias no existe humanizao na assistncia, isso acontece quando se adota uma conduta errnea; quando no h suporte s necessidades da paciente; ao no solicitar exames necessrios para preveno de agravos e ao ausentar-se de suas funes por longos perodos.
necessrio que se tenha bastante cautela durante a escolha das condutas, quando estas esto voltadas para a gestante, estas por sua vez encontram-se em um momento de fragilidade fsica e biolgica, estando mais propcias a terem complicaes graves, sendo o quadro mais agravante o fato de gerar um filho, necessitando assim de um atendimento mais minucioso.12
Para que se possa manter um padro mnimo de qualidade do pr-natal necessrio, que a gestante seja acompanhada de forma integral e sistemtica, a ausncia de consultas pr-natais e de profissionais para realiz-las pode ocasionar em um rompimento da sistematizao e do elo de segurana, favorecendo o surgimento ou mesmo desenvolvimento rpido de agravos que podem comprometer seriamente a vida da me e da criana. De fato a falta de humanizao ou mesmo ausncia de assistncia reflete diretamente nas condies de sade das gestantes e seus filhos, sendo necessrio que os profissionais de sade atuem de maneira mais humanizada para garantir as necessidades de sade de mulheres grvidas que vivem em regime de recluso.13
A orientao faz parte da humanizao, pois o esclarecimento a respeito do pr-natal, como a importncia dos exames, vacinas, sinais de perigos na gestao, assim como esclarecer a respeito do puerprio, dos riscos e cuidados no ps-cirrgico com a ferida operatria, que pode expor a purpera s mais diversas infeces, alm de facilitar a entrada de microrganismos.
durante o pr-natal que todas as dvidas devem ser esclarecidas, a fim de proporcionar uma gestao e puerprio tranquilo a me, neste momento o Enfermeiro deve procurar diagnosticar possveis deficincias no conhecimento da gestante no intuito de realizar a educao em sade visando a promoo da sade, evitando assim que a purpera venha a ter complicaes aps o parto, orientando-a a reconhecer sinais de possvel complicao ou mesmo de uma infeco.8
Na viso das presidirias em relao ao acompanhamento gravdico-puerperal prestado pela equipe de sade no presdio, algumas consideraram que a assistncia ruim, por serem tratadas de uma forma considerada desumana. A ausncia de incorporao da humanizao por parte da equipe evidente nos relatos das presidirias, onde o desrespeito condio do outro gritante, sendo necessria a aquisio de novos valores e premissas pelos profissionais de sade.
Durante o atendimento e/ou consulta de Enfermagem, o Enfermeiro deve se despir de toda e qualquer forma de preconceito, crtica ou julgamento baseado em valores prprios, sendo necessrio adquirir empatia pela paciente, respeitando suas escolhas, condies e estilo de vida, de modo a dar-lhe apoio incondicional.13
Humanizar a incluso das diferenas nos processos de gesto e de cuidado. Sendo as mudanas iniciadas no pelo individual ou grupo isolado, mas de forma coletiva compartilhada e incluso para estimular a produo de novos modos de cuidar e novas formas de organizar o trabalho.14
necessrio que os profissionais vejam estas mulheres no como marginais, que devem ter seus direitos excludos, e sim como pessoas e gestantes que necessitam de cuidado e respeito, sem preconceitos, de maneira a aceitar as diferenas e as condies de vida de cada indivduo, garantindo assim o direito sade das gestantes e purperas que se encontram reclusas.
Em concluso, a pesquisa possibilitou conhecer o servio de sade desenvolvido pela instituio prisional, o que tornou possvel alcanar os objetivos propostos por este estudo.
A anlise dos resultados revelou que a Enfermagem se destaca na assistncia sade dessas mulheres no ciclo gravdico e puerperal no mbito penitencirio, embora de forma desumana, o que chama ateno para a importncia do desenvolvimento de um trabalho humanizado pelos profissionais de sade ao atendimento gestante no ambiente da penitenciria.
Acredita-se que a pesquisa sensibilize as autoridades para que a assistncia humanizada as presidirias no ciclo gravdico e puerperal se torne rotina, garantindo o bem-estar desta parcela da sociedade, pois, embora privadas de liberdade elas tm todos os direitos preconizados pelos Programas de Ateno Integral a Sade da Mulher e de Sade no Sistema Penitencirio que implementa a "Proteo da me e do beb no sistema Penitencirio".
Conflito de interesse
No h conflitos de interesse relacionados com a investigao supracitada.
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Recibido: 2016-03-11.
Aprobado:
2016-05-01.
Wanderson Carneiro Moreira. Rua Vitorino O Fernandes, 6340 6b 208, Uruguai, Teresina-Piau-Brasil. CEP: 64073-505. Direccin electrnica: wandersonm.wm@gmail.com
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