Avaliação de um curso de capacitação: implicações para a prática

ARTCULO ORIGINAL

 

Avaliao de um curso de capacitao: implicaes para a prtica

 

Evaluacin de un curso de formacin: implicaciones para la prctica

 

Evaluation of a training course: implications for practice

 

 

Francielle Toniolo Nicodemos Furtado de Mendona, lvaro da Silva Santos, Ana Luisa Zanardo Buso, Bruna Stephanie Sousa Malaquias

Universidade Federal do Tringulo Mineiro (UFTM). Brasil.

 

 


RESUMO

Introduo: cursos de capacitao na rea da sade proporcionam atualizao tcnico-cientfica, construo do trabalho em equipe e comunicao entre profissionais. Porm muitos cursos no so eficazes, devido utilizao de metodologias de transmisso de conhecimentos.
Objetivo: identificar os efeitos de uma ao educativa no trabalho aps 120 dias.
Mtodos: estudo qualitativo, que utilizou como estratgia metodolgica a pesquisa-ao. Foi desenvolvido com 86 profissionais da Ateno Primria Sade do municpio de Uberaba que participaram de uma capacitao sobre a temtica grupos de educao em sade com idosos. Os dados foram coletados entre os meses de outubro de 2014 e janeiro de 2015 por meio de um questionrio semi-estruturado e analisados pelo mtodo do Discurso do Sujeito Coletivo.
Resultados: entre os participantes houve predominncia de mulheres (89,5 %), faixa etria entre 37 a 50 anos (54,6 %), a maioria enfermeiros (29,1 %). Quase a totalidade (95,3 %) dos participantes referiu estar envolvida em algum grupo de educao em sade, como colaborador (54,9 %) ou coordenador (45,1 %). Aps 120 dias da capacitao observou-se nos discursos uma releitura dos grupos e diversificao nos recursos utilizados, realizao dos grupos com mais conhecimento e segurana, bem como o aumento do respeito ao idoso. Concluso: a educao permanente realizada de forma dialgica e participativa, considerando o contexto de trabalho dos profissionais, abre caminhos para a construo de uma ateno diferenciada aos idosos, pautada no respeito a essas pessoas e na confiana de que um trabalho educativo focado na promoo da sade possvel de ser realizado.

Palavras chave: educao em sade; idoso; capacitao profissional; educao continuada; avaliao educacional; ateno primria sade; pessoal de sade.


RESUMEN

Introduccin: los cursos de formacin en el rea de salud proporcionan actualizacin tcnica y cientfica, construccin del trabajo en equipo y la comunicacin entre los profesionales. Sin embargo, muchos cursos no son eficaces debido a la utilizacin de metodologas de transferencia de conocimiento.
Objetivo: identificar los efectos de una actividad educativa en el trabajo despus de 120 das.
Mtodos: estudio cualitativo que utiliz como estrategia metodolgica la investigacin-accin. Fue desarrollado con 86 profesionales de atencin primaria de salud en la ciudad de Uberaba, MG, Brasil, que participaron en una capacitacin sobre el tema de los grupos de educacin en salud para ancianos. Los datos fueron recogidos entre los meses de octubre 2014 y enero de 2015, a travs de cuestionario semi-estructurado y se analizaron mediante el mtodo del Discurso del Sujeto Colectivo.
Resultados: entre los participantes hubo predominio de mujeres (89,5 %), con edades entre 37-50 aos (54,6 %), la mayora enfermeros (29,1 %). Casi todos (95,3 %) los participantes informaron haber participado en un grupo de educacin en salud, como colaborador (54,9 %) o coordinador (45,1 %). Despus de 120 das de entrenamiento se observ en los discursos reinterpretacin de los grupos y diversificacin de los recursos utilizados, realizacin de los grupos con ms conocimiento y seguridad, as como, mayor respeto por los ancianos.
Conclusin: la educacin permanente y dialgica celebrada de manera participativa abre caminos para la construccin de una especial atencin a las personas mayores, con base en el trabajo educativo centrado en la promocin de la salud puede lograr.

Palabras clave: educacin en salud; anciano; capacitacin profesional; educacin continua; evaluacin educacional; atencin primaria de salud; personal de salud.


ADSTRAT

Introduction: training courses in health provide technical and scientific updating, work construction in team and communication between professionals. However many courses are not effective because of the use of knowledge transfer methodologies.
Objective: To identify the effects of an educational activity at work after 120 days of activity.
Methods: A qualitative study uses as a methodological strategy to action research. It was developed with 86 professionals of Primary Health Care in the city of Uberaba, MG, Brazil, who participated in a training on the subject of health education groups with seniors. Data were collected between the months of October 2014 and January 2015 through a semi-structured questionnaire and analyzed by the Collective Subject Discourse method.
Results: Among the participants there was a predominance of women (89.5 %), aged between 37-50 years (54.6 %), most nurses (29.1 %). Almost all (95.3 %) of the participants reported being involved in a health education group, and as contributor (54.9 %) or coordinator (45.1 %). After 120 days of training was observed in speeches a reinterpretation of the groups and diversification in the resources used, realization of the groups with more knowledge and security, as well as increased respect for the elderly.
Conclusion:
continuing education held dialogic and participatory manner, considering the professional work context, opens the way for the construction of a special attention to the elderly, based on respect for these people and trust that a focused educational work in promoting health can be achieved.

Keywords: Health Education; Aged; Professional Training; Education, Continuing; Educational Measurement; Primary Health Care; Health Personnel.


 

 

INTRODUO

A diversificao nos cenrios de atuao, o rpido desenvolvimento de novas tecnologias e as mudanas nas necessidades da populao exigem que os profissionais de sade estejam sempre atualizados em seu conhecimento para garantir a integralidade do cuidado, a segurana no atendimento, bem como a resolutividade do sistema.1

Com essa preocupao, a Organizao Pan-Americana da Sade e a Organizao Mundial da Sade (OPAS/OMS), iniciaram na dcada de 1980 a proposta da Educao Permanente em Sade (EPS) com a finalidade de reorientar os processos de capacitao de trabalhadores dos servios de sade. 2,3 No Brasil, a implementao da Poltica Nacional de Educao Permanente em Sade (PNEPS) em 2004 ocupa um papel importante na concepo de um SUS democrtico, equitativo e eficiente.2,4

Estudos indicam que os cursos de capacitao na rea da sade so uma importante prtica, que proporciona atualizao tcnico-cientfica, construo do trabalho em equipe e comunicao entre os profissionais 3. Entretanto, tambm h indcios de que muitos cursos no so eficazes devido utilizao de metodologias de transmisso de conhecimentos descontextualizadas da realidade e que no levam em considerao a aprendizagem-trabalho, mantendo a lgica do "modelo escolar".3,4

Sabe-se que os assuntos relacionados ao envelhecimento ganharam maior importncia recentemente, em decorrncia, sobretudo, do aumento acelerado da populao acima de 60 anos em relao populao geral,5 aumentando a demanda de recursos de sade para essas pessoas.

Lidar com o idoso, indivduo que traz consigo experincia e histria de vida, leva necessidade de um ressignificar da realidade, que a partir da compreenso desta, favorea a adoo de estilos de vida mais adequados e coerentes com aspectos biolgicos, sociais e culturais dessas pessoas. A ateno aos idosos exige do profissional de sade uma interao planejada com o indivduo, incluindo uma abordagem com sensibilidade e pensamento crtico para descobrir e captar os diferentes significados que as pessoas do s suas vidas e seus prprios cuidados.6

A fim de se estimular o envelhecimento ativo e saudvel o Ministrio da Sade no Brasil incentiva a participao das pessoas idosas em grupos de educao em sade.7 Contudo a literatura aponta que nem sempre os profissionais de sade esto preparados para o desenvolvimento desses grupos, j que mantm na execuo deles a mesma lgica do modelo escolar, tradicionalmente utilizado sem resultados efetivos.8,9 Tal fato justifica a necessidade de aes de educao permanente sobre o tema.1,10

Nesse contexto, frente implementao de um curso de capacitao acerca da temtica "grupos de educao em sade com idosos", questiona-se: Qual a percepo dos participantes acerca das implicaes na prtica decorrentes desse curso? Assim, o objetivo deste estudo identificar os efeitos de uma ao educativa no trabalho aps 120 dias da realizao da atividade.

 

MTODOS

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, que utiliza como estratgia metodolgica a pesquisa-ao.11

Seguindo as orientaes da pesquisa-ao foram realizadas as seguintes etapas de pesquisa: investigao junto aos profissionais da ateno primria acerca de temas de interesse para uma capacitao no contexto de criao e manejo de grupos de educao em sade com idosos; discusso com representantes da Secretaria Municipal de Sade sobre os temas levantados e criao de proposta de capacitao; implementao da capacitao; avaliao do curso e apoio aos profissionais para criao de grupos-piloto. A etapa de avaliao do curso se deu em duas fases, uma no ltimo dia do curso e outra 120 dias depois. Este trabalho refere-se segunda fase (aps 120 dias) de avaliao do curso.

Os participantes da capacitao, profissionais de sade da ateno primria do municpio de Uberaba-MG, foram definidos por comum acordo entre os interesses individuais dos profissionais e dos gerentes das unidades bsicas de sade do municpio, totalizando 98 participantes divididos em 3 turmas. Para cada turma foram realizados quatro encontros semanais com durao de quatro horas cada, em salas de aula da Universidade Federal do Tringulo Mineiro (UFTM), no perodo de maio a agosto de 2014, sendo a primeira turma em maio, a segunda em julho, e a ltima em agosto. Em todos os encontros foi utilizada metodologia participativa e dialgica baseada na teoria freiriana.12

Os temas discutidos na capacitao incluram os aspectos organizacionais das aes de educao em sade com idosos, tcnicas pedaggicas para operacionalizao dos grupos, aspectos relacionados sade do idoso e principais agravos na terceira idade. Os encontros contaram com o apoio de profissionais convidados de diversas reas, apesar disso, os principais responsveis pelos temas eram os prprios participantes, que deveriam pesquisar previamente sobre o assunto e fazer uma apresentao aos demais, com superviso e complementao, no dia, de um convidado especialista no tema.

Entre 120 e 150 dias aps o trmino de cada turma do curso, ou seja, entre os meses de outubro de 2014 e janeiro de 2015, os profissionais foram contatados em suas unidades de trabalho para aplicao de um questionrio visando identificar os efeitos da capacitao no comportamento do egresso do curso.

Por meio do instrumento de coleta de dados foram feitas aos profissionais as seguintes perguntas: "Voc considera que essa capacitao modificou de alguma forma as suas aes relacionadas educao em sade com idosos? Se sim, como?"; "Existe algo que voc aprendeu na capacitao e, at esse momento, utilizou no seu trabalho?"

Os dados obtidos foram transcritos na ntegra e o material resultante das respostas s questes abertas foi analisado segundo o mtodo do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que se trata de uma estratgia qualitativa que apresenta os pensamentos de uma coletividade por meio de um discurso-sntese, escrito na primeira pessoa do singular. Os discursos so compostos por expresses-chaves (ECH), que so os trechos mais significativos de cada depoimento, contendo a mesma ideia central (IC) e/ou ancoragem.13 Em virtude de sua semelhana, as respostas s duas questes foram analisadas em conjunto. Para auxiliar no processamento dos depoimentos e na construo dos DSC foi utilizado o software Qualiquantisoft, verso 1.3c.

Os participantes que contriburam com expresses-chave em cada DSC foram identificados por cdigos, sendo ACS: Agente Comunitrio de Sade; AS: Assistente Social; ASB: Auxiliar de Sade Bucal; CD: Cirurgio-Dentista; E: Enfermeiro; F: Fisioterapeuta; G: Gerente de UBS; M: Mdico; P: Psiclogo; TE: Tcnico em Enfermagem.

A pesquisa atendeu a todas as normas ticas, sendo aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal do Triangulo Mineiro (parecer 1658/10) e pela Secretaria Municipal de Sade de Uberaba. Todos os participantes receberam explicaes a respeito da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O projeto recebeu auxlio da Fundao de Apoio Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), sob nmero APQ-02554-12.

 

RESULTADOS

Dentre os 98 profissionais que participaram da capacitao, 86 responderam ao questionrio de avaliao. As perdas se deram por recusas (9), afastamentos (2), e aposentadoria (1). Houve predominncia de participantes do sexo feminino (77 - 89,5 %), faixa etria entre 31 e 50 anos (42 - 54,6 %), enfermeiros (25 - 29,1 %), com tempo de formao entre 5 e 10 anos (26 - 30,9 %). Os dados so apresentados na tabela.

A maioria dos profissionais (82 - 95,3 %) referiu estar envolvido em algum grupo de educao em sade na sua unidade, sendo que 45,1 % (N=37) so coordenadores desses grupos.

A anlise das respostas dos profissionais referente aos efeitos da capacitao nas aes no trabalho deu origem a cinco (IC), sendo elas: Releitura dos grupos e diversificao nos recursos utilizados aps atividade educativa (95ECH); Manejo dos grupos com mais conhecimento e segurana (16 ECH); Aumento do respeito ao idoso (19 ECH); Dificuldades para implementao (9 ECH); No houve modificaes aps a atividade educativa (6ECH).

IC - Releitura dos grupos e diversificao dos recursos utilizados aps a atividade educativa

Percebe-se por meio das IC que, decorridos 120 dias da capacitao, a maioria dos profissionais reconhece que o curso promoveu mudana em sua prtica. A influncia mais citada foi relacionada releitura dos grupos executados, com ampliao dos mtodos de abordagem.

Esse discurso aponta a reforma das abordagens e estratgias adotadas para conduo do grupo em sade do idoso, sendo possvel identificar uma busca por atividades mais prazerosas e ldicas.

DSC 1: Atravs do curso pude perceber a necessidade de ouvirmos e utilizarmos as experincias e vivncias dos idosos que participam de nossos grupos como atrativo para que estes se interessem e compreendam as informaes que queremos passar durante as atividades. Mostrou-me novas estratgias ldicas que permitem ter mais sucesso no aprendizado por parte dos idosos com os quais lido, a abordagem junto ao paciente ficou mais dinmica. A capacitao mostrou que a equipe pode realizar/proporcionar um momento prazeroso dentro da unidade sem focar exclusivamente na doena - patologia dos usurios, tornando os grupos de educao em sade mais participativos. A capacitao me deixou mais motivada, principalmente em relao aos outros profissionais, esclarecendo e capacitando para que outras pessoas da equipe tambm participem (no apenas o psiclogo ou um ou outro profissional da sade). Proporciona uma releitura das abordagens que j eram utilizadas. Estou com outra viso de trabalho, os usurios tambm esto mais envolvidos no grupo, eles esto mais ativos, mais frequentes, e o nosso grupo aumentou muito a quantidade de participantes uma vez no ms. Isto se tornou gratificante para nossa equipe. Como alterei (mudei) de unidade estamos iniciando um grupo operacional - envelhecer saudvel e um propsito de utilizar das tcnicas que aprendi. Com certeza o olhar se torna diferente aps o curso. A capacitao me ajudou a organizar as idias na hora de desenvolver as dinmicas em grupo, otimizando assim os resultados, conhecendo melhor as abordagens e estratgias meu trabalho foi facilitado. Percebi que posso usar de diferentes tcnicas para motivar o grupo, gerando novos conhecimentos, permitindo o aprimoramento da prtica. Nos grupos de hipertensos e diabticos a abordagem do paciente ficou mais fcil, em especial poder sugerir mudanas de hbitos com trocas que para eles tenham significado e no apenas obrigao, (utilizar o) saber popular como "gancho" para algumas mudanas. Mas, o mais importante mesmo o reforo sobre a necessidade de escuta qualificada e de promover um maior dinamismo nos grupos (Questo 1: ACS4, ACS5, ACS6, ACS7, ACS9, ACS11, ACS17, ACS18, ACS19, ACS20, ACS21, AS1, AS2, AS3, AS4, ASB3, CD1, CD4, CD6, CD11, CD14, E2, E6, E7, E8, E9, E10, E11, E12, E13, E14, E15, E18, E19, E21, F1, G2, M1, M2, M3, M5, P2, P3, TE1. Questo 2: ACS1, ACS3, ACS6, ACS8, ACS20, AS1, AS2, AS3, AS4, ASB1, ASB3, ASB4, CD1, CD2, CD4, CD6, CD9, CD11, CD12, CD13, CD14, E2, E4, E5, E6, E7, E8, E9, E10, E11, E12, E13, E14, E15, E18, E19, E20, E21, E23, F1, G2, M1, M2, M3, M5, P2, P3, P4, P5, TE1, TE3).

IC- Realizao dos grupos com mais conhecimento e segurana

Foi relatado pelos profissionais como um dos efeitos da capacitao o aumento do conhecimento e embasamento terico para a realizao das atividades relacionadas aos grupos. Esse efeito refletiu tambm no aumento da motivao e autoconfiana segundo os participantes.

DSC 2: Minha participao na capacitao serviu para aumentar minha motivao e autoconfiana para melhor realizao do meu trabalho. Estou mais confiante e mais capacitado para realizar trabalhos em grupo. Melhorou a confiana para executar tcnicas para atividade de educao em sade, conhecimento de habilidades tcnicas para aplicar nos grupos, embasamento terico para prticas mais seguras. Aprendi a ter mais envolvimento com o grupo, deixando-os bem vontade, como lidar com os idosos, a forma de abordar o idoso quanto sua sade e de mostrar alternativas que possam motiv-lo a cuidar da sua sade melhor. Sugeri algumas ideias para tentar montar grupos na unidade (Questo 1: ACS3, ACS15, ACS16, ACS14, CD2, E4, E5, E20, E22, G1, M1, P5, TE2, TE3. Questo 2: ACS4, E22).

IC - Aumento do respeito ao idoso

O discurso aponta o curso como fator modificador na forma de compreender e aceitar o idoso, levando os participantes a reconhecer a pessoa idosa como ser dotado de autonomia, autor e ator de suas prprias decises. Verifica-se tambm nesse DSC a sensibilizao dos profissionais no que se refere existncia de limitaes decorrentes do envelhecimento, tanto no campo fsico quanto no cognitivo, implicando em respeito e compromisso dos profissionais.

DSC 3: Aprendi a perceber o idoso como uma pessoa no pleno gozo de suas vontades, que deve ser incentivado a ter sua independncia tanto quanto possvel, e no ficar apenas subordinado s decises dos cuidadores, que devem lidar com as limitaes do idoso de forma a respeitar suas vontades e sua individualidade enquanto ser humano. Agora tenho mais atitudes para atender ao idoso, palavras certas e pacincia, o jeito de conduzir o idoso, de conversar e a expresso, agora tento me colocar sempre no lugar do idoso, avaliando sempre suas deficincias e limites. Aprendi que o idoso tem sua rotina limitada e manias, as quais s vezes difcil mud-las do dia para a noite. E que preciso respeitar seu espao e estilo de vida. Elaborar atividades considerando as limitaes dos idosos. Acima de tudo a ter muito mais pacincia e respeitar os limites de pessoas mais velhas que eu no tinha tanta pacincia e o curso me conscientizou muito e fico feliz por isso (Questo 1: ACS8, ACS12, ACS13, ACS14, ACS19, ASB1, ASB2, E1, E2, E25. Questo 2: ACS2, ACS5, ACS11, ACS12, ACS13, ACS17, CD3, E1, G1).

IC - Dificuldades encontradas na implementao

Os relatos apontam o desejo de aplicar o aprendido na capacitao entrelaada realidade encontrada pelo profissional diariamente, que por vezes dificulta a prtica dos grupos de educao em sade. Os principais obstculos so decorrentes da falta de colaborao da equipe e falta de apoio estrutural.

DSC4: Considero que a capacitao modificou positivamente minha viso em relao ao trabalho, sobre como lidar com as situaes no atendimento a idosos. Apesar disso, colocar em prtica tais aes ainda complicado devido a limitaes do sistema e resistncia de vrias variveis. Sinto dificuldade dos demais da equipe em aderir novos conhecimentos para serem aplicados na nossa prtica diria. Existe uma acomodao e resistncia por uma grande parte dos profissionais de sade. Falta unio na hora de realizar as atividades propostas para a equipe. Aprendi muito com o curso, mas no ponho em prtica, pois infelizmente no depende s da minha pessoa. A capacitao no modificou minhas aes, pois na unidade a qual trabalho, no momento atual, invivel a formao de grupos, devido ao local distante e no h transporte que possa levar os profissionais at onde os idosos esto e vice-versa. Todos os materiais que precisamos para realizar grupos operativos, como por exemplo bilhetes informativos, ilustraes, materiais decorativos, vdeos, brindes, e o prprio material educativo no so fornecidos pela SMS (Secretaria Municipal de Sade), e sim, por nossa conta. No temos nenhum tipo de apoio estrutural, financeiro, entre outros. (A capacitao) foi importante, mas s vezes a aplicao complica-se devido a falhas de espao e materiais necessrios (Questo 1: ACS20, CD3, CD13, E20, E24, P4. Questo 2: ACS14, ACS19, TE2).

IC - No houve modificaes na prtica aps a atividade educativa

Essa IC, composta por 6 expresses-chave, apresenta a opinio de profissionais que relataram que o curso no teve como resultado qualquer tipo de modificao em suas prticas, apenas reafirmou-as, gerando o reconhecimento de que j realizavam os grupos de acordo com o que foi discutido na capacitao.

DSC 5: A capacitao no modificou minhas aes, pois j realizvamos o grupo com muito sucesso. Acho que reforou aquilo que sempre acreditei e completou algumas lacunas. Fiquei mais estimulada ao perceber que era o que fazia e que estava no caminho certo (Questo 1: CD7, CD8, CD12, E23, M6, P1).

 

DISCUSSO

Observa-se quanto s caractersticas dos participantes da capacitao predomnio de profissionais do sexo feminino, que consoante a outras pesquisas. A feminizao das profisses uma das tendncias da rea da sade e, por conseguinte, dos profissionais da ateno primria. As mudanas econmicas ocorridas no Brasil propiciaram a formao de um mercado de trabalho aberto para a mulher, principalmente no setor tercirio da economia, fato que permitiu o seu avano atual para outras instncias e setores.14-16

Em relao faixa etria, que neste estudo concentrou-se entre 21 e 50 anos, os resultados so semelhantes a outras pesquisas.15,16 Na investigao realizada por Tomasi e cols.14 a maior proporo de trabalhadores estava no grupo etrio de 31 a 45 anos.

Configura-se como caracterstica da Educao Permanente em Sade a participao coletiva multiprofissional, que deve tambm se refletir nas aes de educao em sade desenvolvidas nos servios.4,7 Assim, embora houvesse maioria de enfermeiros, a presena de diferentes categorias profissionais enriqueceu as discusses e possibilitou troca de experincias entre os participantes.

Em relao ao tempo de atuao na APS, observou-se que a maioria dos participantes (49 - 56,9 %) possui mais de 5 anos de experincia neste campo de trabalho. Apesar da precariedade dos vnculos empregatcios ainda encontrados, fato que levaria a uma alta rotatividade de trabalhadores, entre os princpios que orientam a APS esto includos a continuidade do cuidado e o estabelecimento de vnculo, aspectos que permitem o aprofundamento do processo de corresponsabilizao pela sade, alm de carregar em si grande potencial teraputico, tornando valiosa a experincia desses profissionais.7,14

Na avaliao dos profissionais sobre a repercusso da capacitao no seu trabalho a IC "Releitura dos grupos e diversificao nos recursos utilizados aps a capacitao" evidencia a ampliao do olhar sobre as atividades que j eram desenvolvidas, proporcionando novas interpretaes e execues.

O trabalho realizado com o olhar aberto a modificaes potenciais e a utilizao de recursos variados facilita o dilogo e aproxima os membros do grupo, alm de tornar a atividade mais prazerosa e aumentar o desenvolvimento do conhecimento pelo participante.17

Em pesquisa realizada com enfermeiros da ESF do Paran, os profissionais apontaram que a existncia de cursos relacionados ao educativa em sade uma alternativa para reduzir as dificuldades no desenvolvimento dessas atividades, bem como para estimular e despertar o interesse dos profissionais em trabalhar na promoo da sade, assim como ocorreu nesta pesquisa de acordo com os relatos.18

Merece destaque a IC "Aumento do respeito ao idoso" evidenciando que por meio da capacitao os profissionais reconheceram a necessidade de uma ateno diferenciada s pessoas idosas.

de suma importncia que o grupo seja conduzido de acordo com as caractersticas da populao em questo, o que torna fundamental a reflexo levantada nesse discurso. Sabe-se que o processo de envelhecimento envolve mltiplas peculiaridades e que no um processo homogneo para todas as pessoas. Nesse sentido reconhecer e aceitar o perfil do grupo traz insumos para o planejamento e execuo, dando nfase nas expectativas e necessidades dos participantes e no dos profissionais, favorecendo a utilizao de medidas adequadas para uma abordagem efetiva.10,19

Alm disso, de se esperar que o aumento do respeito ao idoso e da considerao de sua autonomia estreite as relaes entre os profissionais e a populao idosa. O estabelecimento dessa relao fundamental para o alcance dos objetivos propostos pelo grupo, j que a adeso e a prtica do autocuidado esto intimamente relacionadas ao atendimento baseado na confiana e no vnculo, possibilitando a construo de propostas teraputicas promotoras de sade.20

Em relao s dificuldades encontradas na implementao das aes, destaca-se o relato dos participantes de que ainda presente a resistncia e a falta de cooperao de alguns profissionais da equipe em desenvolver as atividades de educao em sade, resultado tambm encontrado por pesquisadores no Paran.18

Ainda presente a realidade de que muitos gestores e profissionais de sade no percebem a interveno educativa como assistncia sade, e tampouco demonstram interesse em "perder tempo" com esse tipo de atividade, preferindo o mtodo tradicional de consulta e prescrio medicamentosa.20

Outros fatores que dificultam a realizao das atividades em grupo so as barreiras de acesso, como a distncia da unidade e a falta de transporte, e a sobrecarga de trabalho devido grande demanda por atendimento individual.18,20,21

A IC com menos expresses-chave aborda a capacitao como agente confirmador das atividades que j eram adotadas por alguns profissionais. O DSC foi elaborado a partir de seis relatos, todos de profissionais de nvel superior.

Em estudo realizado por Mouro, Abbad e Zerbini com 742 participantes, 48 % avaliaram j possuir os conhecimentos e as habilidades para aplicar as competncias ensinadas no curso avaliado.22

Contudo, o fato de que esses profissionais j realizam as atividades conforme o discutido na capacitao no deve se configurar como excluso da necessidade de que eles integrem esses cursos. Nessas oportunidades ocorre a troca de experincias e discusso das possibilidades, bem como aprimoramento e construo de novos conhecimentos, tornando possvel tanto o preenchimento de algumas lacunas apresentadas por esses profissionais quanto a socializao de suas experincias com os outros participantes.

 

CONSIDERAES FINAIS

A opinio dos participantes em relao aos efeitos da EPS no trabalho evidenciou que a atividade promoveu mudana nas aes desenvolvidas. Os profissionais relataram uma releitura dos grupos realizados na APS com diversificao nos recursos utilizados, e reconheceram o manejo dos grupos com mais conhecimento, segurana e respeito ao idoso aps a atividade educativa. Por outro lado, tambm foram apontadas dificuldades para a implementao das aes, como a falta de recursos materiais e apoio de outros profissionais.

O trabalho gera subsdios para transformao no modo de conduzir aes educativas com profissionais de sade, traz a luz efeitos positivos de uma atividade conduzida de forma dialgica e participativa considerando as reais necessidades dos envolvidos, repercutindo efetivamente na qualidade do servio prestado populao.

* Este artigo parte do Projeto intitulado Educao em Sade para Idosos: necessidade de capacitao dos profissionais de sade e criao de grupos educativos no municpio de Uberaba/ Minas Gerais, financiado pela Fundao de Apoio a Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) na modalidade Pesquisa e Extenso, sob nmero APQ: 02554-12.

 

Conflitos de interesse

Os autores declaram no haver conflito de interesses.

 

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Recibido: 2016-03-11.
Aprobado: 2016-05-13.

 

 

Francielle Toniolo Nicodemos Furtado de Mendona. Universidade Federal do Tringulo Mineiro (UFTM). Direccin electrnica: francielletoniolo.enf@gmail.com

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